18 de Janeiro de 2010SUMÁRIO: Análise e resumo de um texto sobre a teoria explicativa de David Hume.
11. Existe uma diferença considerável entre as percepções da mente, quando sentimos alguma coisa e depois trazemos à memória a sua sensação ou a antecipamo-la. Estas faculdades podem copiar as percepções dos sentidos, mas não podem atingir a força e vivacidade do sentimento original. Mesmo quando actuam com firmeza, quase que poderíamos dizer que o que sentimos ou vemos existe. A não ser por motivo de doença ou loucura, elas nunca podem chegar a tal nível de vivacidade que tornem indistinguíveis as percepções.0 mais vivo pensamento é ainda inferior à mais turva sensação.
Em todas as outras percepções da mente podemos notar uma distinção similar. Um homem, num acesso de cólera, é movido de um modo muito diferente daquele que apenas pensa nesta emoção. Se alguém me diz que uma pessoa está apaixonada, eu compreendo o que quer dizer mas não posso ter ideia das desordens e as agitações da paixão. Os nossos sentimentos passados podem ser confundidos os nossos pensamentos originais.
12. As percepções da mente pode ser dividas em duas classes. Estas distinguem-se pelos seus diferentes graus de força e vivacidade. Os pensamentos/Ideias são menos intensas e vivas. As impressões apresentam o oposto dos pensamentos ou ideias. Consiste em percepções mais vivas quando temos sensações e movimentos.
13. À primeira vista, não há nada mais livre do que o pensamento humano, porque não só se esquiva a todo o poder e autoridade humanos, mas também não está dentro dos limites da natureza e da realidade. Dar forma a monstros e associar imagens e aparências é conceber os objectos mais naturais e familiares. E quanto o corpo está destinado a um planeta, ao longo do qual se arrasta com dor e dificuldade, o pensamento pode transportar-nos para lá do universo, onde o caos é ilimitado. O que nunca foi visto ou se ouviu pode conceber-se no pensamento.
Embora o nosso pensamento pareça ter esta liberdade veremos, que se encontra realmente confinado a limites muito estreitos e que todo este poder criador da mente é a capacidade de compor, transpor, aumentar ou diminuir os materiais que no são fornecidos pelos sentidos e pela experiência. Quando pensamos numa montanha de oiro ou num cavalo virtuoso, é o juntar de duas ideias com as quais já antes estávamos familiarizados porque a partir do nosso próprio sentimento podemos conceber a virtude; Concluindo, todos os materiais do pensamento são derivados da sensibilidade externa ou interna: a mistura e composição destes pertencem à mente e à vontade.
14. Os dois argumentos seguintes serão, espero, sufi cientes para provar isto. Primeiro, ao analisarmos os nossos pensamentos ou ideias, por muito compostas e sublimes que sejam, sempre descobrimos que elas se resolvem em ideias tão simples como se fossem copiadas de uma sensação ou sentimento precedente. Mesmo as ideias que, à primeira vista, parecem afastadas destas origem, descobre-se. após um escru tínio mais minucioso, serem dela derivadas. Compete-nos, pois, a nós, se havemos de manter a nossa doutrina, mostrar a impressão, ou a percepção viva que lhe corresponde.
15. Segundo, se acontecer que um homem, em virtude de um defeito dos órgãos, não é susceptível de qualquer espé cie de sensação, vemos sempre que ele é igualmente pouco susceptível das ideias correspondentes. Um homem cego não pode formar nenhuma noção das cores, e um surdo, dos sons. Restitua-se a cada um deles o sentido em que é deficiente; franqueando esta nova entrada para as suas sensações, patenteia-se também uma entrada para as ideias, e ele não encontra dificuldade alguma em conceber esses objectos.
Admite-se prontamente que outros seres possam possuir muitos sentidos dos quais não temos nenhuma noção, porque as ideias deles nunca nos foram introduzidas da única maneira pela qual uma ideia pode ter acesso à mente, isto é, através da sensibilidade e da sensação efectivas.
16. Existe, contudo, um fenómeno contraditório que pode provar que não é absolutamente impossível surgirem ideias independentes das suas impressões correspondentes. Creio que sem grande esforço se admitirá que as várias e distintas ideias de cor, que entram pelos olhos, ou as de som, que são trans portadas pelos ouvidos, são realmente diferentes umas das outras, embora, ao mesmo tempo, se assemelhem. Suponhamos, pois, que uma pessoa desfrutou da sua visão durante trinta anos e que se tornou perfeitamente familiarizada com cores de todas as espécies, excepto com um matiz particular de azul, por exemplo, que nunca teve a sorte de encontrar. Que todos os diferentes matizes dessa cor, excepto aquele único, lhe sejam apresentados. Pergunto eu, agora: ser-lhe-á possível, pela sua própria imaginação, suprir tal deficiência e ascender por si mesma à ideia desse matiz particular, embora nunca lhe tenha sido transmitida pelos sentido? Creio que serão poucos os que não tenham a opinião de que ela pode: e isto pode servir de prova de que as ideias simples não são sempre, em todas as circuns tâncias, derivadas das impressões correspondentes.
17. Todas as ideias, em especial as abstractas, são naturalmente vagas e obscuras; a mente tem delas apenas um escasso domínio. E são propensas a confundir-se com outras ideias semelhantes: e quando utilizámos muitas vezes algum termo, embora sem um significado distinto, temos a inclinação para imaginar que possui uma ideia determinada a ele anexa. Pelo contrário, todas as impressões, isto é, todas as sensações, quer externas ou internas, são fortes e vivas; os limites entre elas estão mais exactamente determinados, e nem é fácil cair em erro ou engano em relação a elas. Por consequência, quando alimentarmos alguma suspeita de que um termo filosófico é empregue sem um significado ou ideia (como acontece com demasiada frequência), precisamos apenas de perguntar: de que impressão deriva esta suposta ideia? E se for impossível assinalar alguma, isso servirá para confirmar a nossa suspeita. Mediante esta tão clara elucidação das ideias, podemos justamente esperar remover toda a disputa que possa surgir acerca da sua natureza e realidade.